15 - O Universo da Mente

“O processo de escolha divide a mente no batalhar das antíteses, e então as imagens internas se escondem como as estrelas atrás das densas nuvens dos raciocínios”.

Samael Aun Weor


O QUE É A MENTE


O pensamento é uma função do Corpo Mental. O homem pode pensar sem cérebro físico, independentemente da matéria cerebral. Isto já está demonstrado nos laboratórios científicos onde se conseguiu materializar entidades desencarnadas. O encéfalo é governado pela mente, mas a Mente não é governada pelo encéfalo. O encéfalo é um instrumento das emoções e da Consciência, mas não produz emoções nem consciência. O que é lógico não pode ser refutado pela ignorância. Lógica é lógica.

Aqueles que afirmam que o cérebro produz pensamento, emoção e consciência são ignorantes, porque não estudaram o Corpo Mental. Com base na ignorância não se pode refutar. É necessário que os ignorantes estudem.

Noções Fundamentais de Endocrinologia e Criminologia

Aqueles que supõem que a Mente é o cérebro estão totalmente equivocados. A Mente é energética, sutil, pode emancipar-se da Matéria, pode, em certos estados hipnóticos ou durante o sono normal, transportar-se a lugares remotos para ver e ouvir o que está acontecendo ali.

Nos laboratórios de parapsicologia são feitas notáveis experiências com pessoas em estado hipnótico. Muitas pessoas sob hipnose puderam informar com minuciosos detalhes sobre pessoas, acontecimentos e situações que se passavam em lugares remotos durante seu transe hipnótico.

Os cientistas puderam, após estas experiências, verificar a realidade destas informações. Puderam comprovar a realidade dos fatos, a exatidão dos acontecimentos. Com estas experiências nos laboratórios de parapsicologia, fica totalmente demonstrado, pela observação e experiência, que o cérebro não é a Mente.

Podemos afirmar, real e verdadeiramente, que a Mente pode viajar através do Tempo e do Espaço, de forma independente do cérebro, para ver e ouvir coisas que acontecem em lugares distantes. A realidade das percepções extrassensoriais já está absolutamente demonstrada, e só a um louco varrido ou a um idiota poderia ocorrer negar a realidade das extra percepções.

O cérebro é feito para perceber o pensamento, mas não é o pensamento. O cérebro não pensa, quem pensa é a Mente. O cérebro é apenas o instrumento da Mente, não é a Mente. A esfera do pensamento onde o homem vive jamais poderia estar encerrada dentro da limitada circunferência do crânio.

Se existisse um homem assim, seria o homem mais desgraçado do mundo. Um homem com o pensamento encerrado no crânio não poderia ver nem perceber os mundos internos. Sabe-se que, enquanto o corpo descansa, nossa Psique escapa e, dentro dessas “dimensões paralelas”, continua seus processos sem necessidade daquele cérebro que permanece no corpo físico. Todos os seres humanos podem aprender a manejar corretamente sua mente.

A Consciência, envolta na Mente, poderia viajar à vontade no espaço e até mesmo no tempo, como fizeram os grandes videntes do passado. Contudo, é urgente saber como e porque a Mente funciona. Só resolvendo o “como” e o “porquê” poderemos fazer da Mente um instrumento útil.


A DINÂMICA MENTAL


Esse triste homúnculo racional equivocadamente chamado Homem é muito semelhante a um barco fatal tripulado por muitos passageiros sinistros e tenebrosos (refiro-me aos Eus). Inquestionavelmente, cada um destes em particular tem sua própria mente, idéias, conceitos, opiniões, emoções, etc., etc., etc.

Obviamente, estamos cheios de infinitas contradições psicológicas; se pudéssemos nos ver num espelho, de corpo inteiro, tal como internamente somos, ficaríamos horrorizados conosco mesmos. O tipo de Mente que, em um dado momento, se expresse em nós através dos diversos funcionalismos cerebrais depende exclusivamente da qualidade do Eu em ação.

É evidente, indiscutível e manifesta, em cada um de nós, a existência interior de muitas Mentes. Certamente não somos possuidores de uma mente individual, particular; temos muitas Mentes.

As Três Montanhas

Em Dinâmica Mental necessitamos saber algo sobre como e por que a Mente funciona. Sem dúvida, a Mente é um instrumento que devemos aprender a dirigir conscientemente. Porém, seria um absurdo que tal instrumento fosse eficiente se antes não soubéssemos o “como” e o “porquê” da Mente.

Quando alguém conhece o “como” e o “porquê” da Mente, quando conhece os seus diversos funcionamentos, pode controlá-la, e ela se converte num instrumento útil e perfeito, num maravilhoso veículo mediante o qual podemos trabalhar em benefício da humanidade.

Na verdade, necessitamos de um sistema realista, se é que queremos verdadeiramente conhecer o potencial da mente humana. Atualmente existem muitos sistemas para o controle da Mente.

Há para o controle do pensamento. Existem muitas escolas, muitos sistemas, muita teoria sobre a Mente, mas, como seria possível transformá-la em algo útil? Reflitamos: se não sabemos o “como” e o “porquê” da Mente, não podemos conseguir que ela seja perfeita.

Necessitamos conhecer as diversas funções da Mente, se é que queremos que ela seja perfeita. Como funciona? Por que funciona? Esse “como” e “porquê” são definitivos. Por exemplo, se lançamos uma pedra num lago, veremos que se formam ondas.

Essas ondas são as reações do lago e da água contra a pedra. Similarmente, se alguém nos diz uma palavra irônica, ela chega à Mente e a Mente reage contra tal palavra; então vêm os conflitos. Todo o mundo está com problemas. Todo o mundo vive em conflitos.

Observei, cuidadosamente, as mesas de debates de muitas organizações, escolas, etc., e vi que não se respeitam uns aos outros. Por quê? Porque não se respeitam a si mesmos. Observemos um Senado, uma Câmara de Representantes ou, simplesmente, uma mesa de escola; se alguém diz algo, o outro se sente aludido, se aborrece e diz coisa pior, combatem-se e os membros da mesa diretora terminam num grande caos.

O fato de a Mente de cada um deles reagir contra os impactos do mundo exterior traz um resultado gravíssimo. Na verdade, temos que apelar à psico-análise introspectiva para explorar a própria Mente. Torna-se necessário nos autoconhecermos um pouco mais sob o aspecto intelectual.

Por exemplo, por que reagir diante de uma palavra de um semelhante? Nestas condições, sempre somos vítimas... Se alguém quer contentar-nos, basta que nos dê umas “palmadinhas” no ombro e nos diga palavras amáveis. Se quer ver-nos desgostosos, basta que nos diga algumas palavras desagradáveis.

Então, onde está nossa verdadeira liberdade intelectual? Qual é? Dependemos concretamente dos outros, somos escravos. Nossos processos psicológicos dependem exclusivamente de outras pessoas. Não dominamos nossos processos psicológicos, e isto é terrível.

São os outros que mandam em nós e em nossos processos íntimos. Um amigo vem e nos convida para uma festa; vamos à sua casa, nos oferece um copo, nos dá pena não aceitar, bebemos, vem outro copo e também o tomamos; a seguir, outro e mais outro, até que terminamos embriagados. O amigo foi dono e senhor de nossos processos psicológicos.

Por acaso uma Mente assim pode servir para alguma coisa? Se alguém manda em nós, se todo o mundo tem direito a mandar em nós, então, onde está nossa liberdade intelectual? Qual é?

Repentinamente nos encontramos diante de uma pessoa do sexo oposto com a qual nos identificamos muito, e logo terminamos envolvidos em fornicações ou adultérios. Isto significa que aquela pessoa do sexo oposto foi mais forte, venceu nosso processo psicológico, nos controlou e nos submeteu à sua própria vontade. Isto é liberdade?


O DOMÍNIO DA MENTE


É claro que nos cabe irmos nos emancipando cada vez mais da Mente. A Mente é um calabouço, um cárcere onde todos estamos prisioneiros. Necessitamos nos evadir desse cárcere, se é que queremos realmente saber o que é a liberdade, essa liberdade que não é do tempo, essa liberdade que não é da Mente.

Antes de tudo, devemos considerar a Mente como algo que não é do Ser. As pessoas, infelizmente, muito identificadas com a Mente, dizem: “Estou pensando!” e se sentem sendo Mente.

Há escolas que se dedicam ao fortalecimento da Mente. Dão cursos por correspondência, ensinam a desenvolver a força mental, etc., mas tudo isso é absurdo. O indicado não é fortalecer as grades da prisão onde estamos.

O que necessitamos é destruir essas grades para conhecer a verdadeira liberdade, que, como eu disse, não é do tempo. Enquanto estivermos no cárcere do intelecto, não seremos capazes de experimentar a verdadeira liberdade.

A Mente, em si mesma, é uma prisão muito dolorosa; ninguém é feliz com a Mente. Até esta data não se conhece o homem que seja feliz com a Mente. A Mente torna infelizes todas as criaturas.

Os momentos mais felizes que tivemos na vida foram sempre em ausência da Mente; foram apenas instantes, mas que jamais poderão ser esquecidos; em tal momento soubemos o que é a felicidade, mas isso só durou um segundo.

A Mente não sabe o que é a felicidade, a Mente é um cárcere! Há que aprender a dominar a Mente, não a do próximo, e sim a nossa própria, se é que queremos nos tornar independentes dela.

É indispensável aprender a olhar a Mente como algo que devemos dominar, como algo que, digamos, necessitamos amansar. Recordemos o Divino Mestre Jesus entrando em seu burrico em Jerusalém, no Domingo de Ramos; esse burrico é a Mente que deve ser submetida.

Devemos montar no burrico, não deixar que ele monte em nós. Infelizmente, as pessoas são vítimas da Mente, visto que não sabem montar no burrico. A mente é um burrico demasiadamente lerdo que precisa ser dominado, se é que realmente queremos montar nele. A Mente, em si, é o Ego.

É urgente destruir o Ego para que a substância mental possa ser de utilidade transcendente. O importante é liberar-nos desta Mente lerda e, uma vez livres dela, aprender a desenvolver-nos no mundo do Espírito Puro sem a mente; saber viver nessa corrente do som que está além da Mente e que não é do tempo.

Na Mente o que existe é ignorância. A Sabedoria real não está na Mente, mas além dela. A Mente é ignorante, e por isso cai e torna a cair em tantos erros graves. Quão insensatos são aqueles que fazem propagandas mentais, que prometem poderes mentais, que ensinam a dominar a Mente alheia, etc...

A mente não traz felicidade a ninguém. A verdadeira felicidade está muito além da Mente. Ninguém pode chegar a conhecer a felicidade sem antes se emancipar da Mente.

Nos 49 departamentos do subconsciente mental se escondem todos e cada um dos “agregados psicológicos”. Tornar-nos independentes dessa Mente egóica é importante para conhecermos o Real; não para conhecê-lo intelectualmente, mas para experimentá-lo real e verdadeiramente.


O “EU” NA MENTE


Nossos discípulos devem trocar o processo do Raciocínio pela beleza da Compreensão. O processo do Raciocínio divorcia a Mente do Íntimo. Uma Mente divorciada do Íntimo cai no abismo da Magia Negra.

Muitas vezes o Íntimo dá uma ordem e a Mente se manifesta com seus raciocínios. O Íntimo fala em forma de pressentimentos ou pensamentos; a Mente se manifesta raciocinando e comparando.

O raciocínio se baseia na opinião, na luta de conceitos antitéticos (de antíteses), no processo de escolha conceitual, etc. A Razão divide a Mente com o Batalhar das Antíteses. Os conceitos antitéticos convertem a Mente num campo de batalha.

Uma Mente dividida pelo batalhar dos raciocínios, pela luta antitética de conceitos, fraciona o entendimento, convertendo-o num instrumento inútil para o Ser, para o Íntimo.

Quando a Mente não pode servir de instrumento para o Íntimo, serve então de instrumento para o Eu animal, convertendo o homem em um Ser cego e retardado, escravo das paixões e das percepções sensoriais do mundo exterior.

Os seres mais estúpidos e passionais que existem sobre a Terra são exatamente os grandes pensadores intelectuais. O intelectual perde o sentido da oração por falta de um ponto ou uma vírgula.

O intuitivo sabe ler onde o Mestre não escreve, escutar quando o Mestre não fala. O racionalista é totalmente escravo dos sentidos externos, e sua Alma é inválida como o bote que o vento extravia sobre as águas.

Os raciocinadores espiritualistas são os seres mais infelizes que existem sobre a Terra. Têm a Mente empanturrada de teorias e mais teorias, e sofrem horrivelmente por não poderem realizar nada do que leram.

Tarot e Cabala

Existem no mundo muitos oradores que assombram por sua eloquência, mas são poucas as pessoas que sabem escutar. Saber Escutar é muito difícil, poucas são as pessoas que de verdade sabem escutar.

Quando fala o professor, a professora ou o conferencista, o auditório parece estar muito atento, como se estivesse acompanhando em detalhe cada palavra do orador. Tudo dá a impressão de que estão escutando, de que se encontram em estado de alerta; mas, no fundo psicológico de cada indivíduo, há um secretário que traduz cada palavra do orador.

Este secretário é o Eu, o Mim Mesmo, o Si Mesmo. O trabalho de tal secretário consiste em interpretar mal, traduzir mal as palavras do orador. O Eu traduz de acordo com seus pré-julgamentos, preconceitos, temores, orgulho, ansiedades, ideias, memórias, etc., etc., etc....

Na escola, os alunos, as alunas, os indivíduos que em conjunto constituem o auditório que escuta, não estão realmente escutando o orador. Estão escutando a si mesmos, estão escutando seu próprio Ego, seu querido Ego maquiavélico que não está disposto a aceitar o Real, o Verdadeiro, o Essencial.

Só em estado de alerta à novidade, com Mente espontânea, livre do peso do passado, em estado de plena receptividade, podemos realmente escutar sem a intervenção desse péssimo secretário de mau presságio chamado Eu, Mim Mesmo, Si Mesmo, Ego.

Quando a Mente está condicionada pela memória, apenas repete o que tem acumulado. A Mente, condicionada pelas experiências de tantos ontens, só pode ver o presente através das lentes turvas do passado.

As Mentes toscas, rudes, deterioradas, degeneradas, jamais sabem escutar, jamais sabem descobrir o novo. Essas Mentes só compreendem, só entendem, de forma equivocada, as traduções absurdas desse secretário satânico chamado Eu, Mim Mesmo, Ego.

Querendo saber escutar, aprender a escutar para descobrir o novo, devemos viver de acordo com a Filosofia da Momentaneidade. Devemos aprender a viver de momento em momento, sem os pré-julgamentos e preconceitos adquiridos no passado.

Devemos aprender a viver a vida com Mente aberta. As crianças e os jovens, homens e mulheres, têm Mentes mais elásticas, prontas, alertas, etc. Muitas são as crianças e jovens que se divertem perguntando a seus pais e professores sobre tais e quais coisas.

Desejam saber algo mais, querem saber e por isso perguntam, observam, veem certos detalhes que os adultos desprezam ou não percebem. À medida que os anos passam, conforme avançamos em idade, a Mente vai se cristalizando pouco a pouco. A Mente dos velhos está fixa, petrificada, já não muda, nem a tiros de canhão.

Os velhos são assim e assim morrem, eles não mudam, abordam tudo de um ponto de vista fixo. A caducidade (chochera) dos velhos, seus pré-julgamentos, ideias fixas, etc., parecem, em conjunto, uma rocha, uma pedra que não muda de maneira nenhuma, daí o ditado popular: “gênio e figura até a sepultura”.

É urgente que os professores e professoras encarregados de formar a personalidade dos alunos e alunas estudem muito a fundo a Mente, a fim de que possam orientar com inteligência as novas gerações.

É doloroso compreender profundamente como, através dos tempos, a Mente vai se petrificando, pouco a pouco. A Mente mata o Real, o Verdadeiro. A Mente destrói o amor.

Há pessoas que chegam à velhice e não são capazes de amar porque suas mentes estão cheias de dolorosas experiências, pré-julgamentos, ideias fixas como aço, etc... Existem por aí velhos assanhados que se dizem capazes de amar, mas o que acontece é que tais pessoas estão cheias de paixões sexuais senis e confundem paixão com amor.

O amor dos velhos se torna impossível porque a Mente o destrói com suas (chocheras) ideias fixas, pré-julgamentos, ciúmes, experiências, recordações, paixões sexuais, etc., etc. A mente é o pior inimigo do amor.

Nos países supercivilizados o Amor já não existe, porque a mente das pessoas só cheira a fábricas, contas de banco, gasolina e celuloide. Existem muitas prisões para a Mente, e a Mente de cada pessoa está muito bem aprisionada.

Alguns têm a Mente engarrafada nos ciúmes, no ódio, no desejo de ser rico, na boa posição social, no pessimismo, no apego a determinadas pessoas, no apego a seus próprios sofrimentos, em seus problemas familiares, etc., etc.

Encanta às pessoas engarrafar a Mente. Raros são aqueles que se decidem de verdade a despedaçar a garrafa. Necessitamos liberar a mente, mas as pessoas gostam da escravidão. É muito raro encontrar alguém na vida que não tenha a Mente bem engarrafada.

Os professores devem ensinar tudo isso aos alunos. Devem ensinar às novas gerações a investigar sua própria Mente, a observá-la. Só assim, mediante a compreensão profunda, podemos evitar que a Mente se cristalize, se congele, se aprisione.

A única coisa que pode transformar o mundo é isso que se chama Amor; mas a Mente destrói o Amor. Precisamos estudar nossa própria Mente, observá-la, investigá-la profundamente, compreendê-la verdadeiramente. Só assim, só fazendo-nos “senhores de nós mesmos”, de nossa própria Mente, mataremos o assassino do Amor e seremos felizes de verdade.

Aqueles que vivem fantasiando lindamente sobre o Amor, aqueles que vivem fazendo projetos sobre o Amor, aqueles que querem que o Amor opere conforme seus gostos e desgostos, projetos e fantasias, normas e pré-julgamentos, recordações e experiências, etc., jamais poderão saber o que realmente é o Amor.

De fato, eles se converteram em inimigos do Amor. É necessário compreender, de forma íntegra, o que são os processos da Mente em estado de acúmulo de experiências. Muitas vezes o professor ou a professora repreende de forma justa, porém às vezes o faz estupidamente e sem motivo verdadeiro, sem compreender que toda repreensão injusta fica depositada na Mente dos estudantes.

O resultado deste procedimento equivocado pode ser, para o professor ou a professora, a perda do Amor. A Mente destrói o Amor, e isto é algo que os professores ou professoras das escolas e universidades jamais devem esquecer.

É necessário compreender a fundo esses processos mentais que acabam com a beleza do Amor. Não basta ser pai ou mãe de família; há que saber amar. Os pais e mães creem que amam seus filhos e filhas porque os têm, porque são seus, porque os possuem como quem tem uma bicicleta, um automóvel, uma casa.

O sentido de posse, de dependência, pode ser confundido com o Amor, porém jamais poderia ser Amor. Os mestres do segundo lar que é a escola creem que amam seus alunos, porque lhes pertencem como tais, porque os possuem, porém isso não é Amor. O sentido de posse ou dependência não é Amor.

A Mente destrói o Amor, e só compreendendo todos os funcionamentos equivocados da Mente, nossa absurda forma de pensar, nossos maus costumes, hábitos automáticos, mecanicistas, nossa maneira equivocada de fazer as coisas, etc., podemos chegar a vivenciar, experimentar verdadeiramente isso que não pertence ao tempo, isso que se chama Amor.

As pessoas que querem que o Amor se converta numa peça de sua própria máquina rotineira, aqueles que desejam que o amor caminhe pelos caminhos equivocados de seus próprios pré-julgamentos, desejos, medos, experiências de vida, formas egoístas de ver as coisas, forma equivocada de pensar, etc., acabam, de fato, com o Amor, porque este jamais se deixa submeter.

Aqueles que desejam que o Amor funcione “como eu quero”, “como eu desejo”, “como eu penso”, perdem-no, porque Cupido, o Deus do Amor, não está disposto jamais a deixar-se escravizar pelo Eu. É necessário acabar com o Eu, com o Mim Mesmo, com o Si Mesmo, para não perder o Menino do Amor.

O Eu é um feixe de recordações, desejos, temores, ódios, paixões, experiências, egoísmo, invejas, cobiças, luxúria, etc., etc. Só compreendendo cada defeito separadamente, estudando-o, observando-o diretamente, não apenas na região intelectual como em todos os níveis subconscientes da Mente, ele vai desaparecendo, e vamos morrendo de momento em momento.

Assim, e somente assim, alcançamos a Desintegração do Eu. Aqueles que querem aprisionar o Amor dentro da horrível prisão do Eu perdem-no para sempre, porque o Amor jamais poderá ser aprisionado. Infelizmente, queremos que o Amor se comporte de acordo com nossos hábitos, desejos, costumes, etc.

Queremos que o Amor se submeta ao Eu, e isso é absolutamente impossível, porque o Amor não obedece ao Eu. Os casais de namorados - ou, melhor dizendo, apaixonados - supõem que o Amor deve trilhar fielmente os caminhos de seus próprios desejos, concupiscência, erros, etc., e nisto estão equivocados. “Falemos de nós dois”, dizem os namorados ou apaixonados sexualmente (que é o que mais existe neste mundo).

E logo vêm as conversas, os projetos, desejos e suspiros. Cada qual diz algo, expõe seus projetos, seus desejos, sua maneira de ver as coisas da vida, e quer que o Amor se mova como um trem pelos trilhos de aço traçados pela mente. Quão equivocados estão esses namorados ou apaixonados! Quão distantes estão da realidade!

O Amor não obedece ao Eu, e quando os cônjuges querem acorrentá-lo pelo pescoço e submetê-lo, foge, deixando o casal em desgraça. A mente tem o mau gosto de comparar. O homem compara uma noiva com outra. A mulher compara um homem com outro.

O professor compara um aluno com outro, como se todos os alunos não merecessem o mesmo apreço. Realmente, a comparação é abominável! Quem contempla um belo pôr-do-sol e o compara com outro não sabe realmente compreender a beleza que tem ante seus olhos.

Quem contempla uma bela montanha e a compara com outra que viu ontem, não está, realmente, compreendendo a beleza da montanha que tem diante de seus olhos. Onde existe comparação não existe Amor verdadeiro.

Os pais que amam seus filhos de verdade jamais os comparam com ninguém; os amam, e isso é tudo. O marido que ama sua esposa jamais comete o erro de compará-la com ninguém; ama-a, e isso é tudo. O professor ou professora que ama seus alunos jamais os discrimina, nunca os compara entre si; os ama de verdade, e isso é tudo.

A Mente dividida pelo batalhar dos opostos não é capaz de compreender o novo, se petrifica, se congela. A Mente tem muitas profundidades, regiões, terrenos subconscientes, subterfúgios, porém o melhor é a Essência, a Consciência, e está no Centro.

Quando o dualismo se acaba, quando a Mente se torna íntegra, serena, quieta, profunda, quando já não compara, então desperta a Essência, a Consciência, e esse deve ser o verdadeiro objetivo da Educação Fundamental. Distingamos entre Objetivo e Subjetivo. No objetivo há Consciência desperta. No subjetivo há consciência adormecida, subconsciência.

Só a Consciência Objetiva pode gozar do Conhecimento Objetivo. A informação intelectual que os alunos da todas as escolas, colégios e universidades recebem atualmente é cem por cento subjetiva.

O Conhecimento Objetivo não pode ser adquirido sem Consciência Objetiva. Os alunos e alunas devem chegar primeiro à autoconsciência, e depois à Consciência Objetiva. Só pelo caminho do Amor podemos chegar à Consciência Objetiva e ao Conhecimento Objetivo.

É necessário compreender o complexo problema da Mente, se é que de verdade queremos percorrer o Caminho do Amor.


A ESCRAVIDÃO PSICOLÓGICA


Ninguém poderá experimentar a Liberdade enquanto sua Consciência continuar aprisionada no Si Mesmo, no Mim Mesmo. Compreender este Eu Mesmo, “minha personalidade”, “o que eu sou”, é urgente quando se deseja, muito sinceramente, conseguir a Liberdade.

De modo algum poderíamos destruir os elos da escravidão, sem haver previamente compreendido toda essa “minha questão”, tudo isso que pertence ao Eu, ao Mim Mesmo. Em que consiste a escravidão? Que é isso que nos mantém escravos? Quais são essas travas? Precisamos descobrir tudo isso.

Ricos e pobres, crentes e descrentes, todos estão formalmente presos, embora se considerem livres.

Enquanto a Consciência, a Essência, o que temos de mais digno e decente em nosso interior, continuar engarrafada no Si Mesmo, no Mim Mesmo e no Eu Mesmo, em “meus apetites e temores”, em “meus desejos e paixões”, em “minhas preocupações e violências”, em “meus defeitos psicológicos”, se estará em prisão formal.

A Grande Rebelião

Em nosso lar e na escola, os pais de família e professores nos dizem o que devemos pensar, porém nunca na vida nos ensinam como pensar. Saber o que pensar é relativamente muito fácil! Nossos pais, professores, tutores, autores de livros, etc., etc., cada um é um ditador a seu modo.

Cada qual quer que pensemos em seus ditados, exigências, teorias, preconceitos, etc. Os ditadores da Mente existem em grande quantidade, como a erva daninha. Existe por toda parte uma tendência perversa a escravizar a Mente alheia, aprisioná-la, obrigá-la a viver dentro de determinadas normas, preconceitos, escolas, etc.

Os milhares e milhões de ditadores da Mente jamais quiseram respeitar a liberdade mental de ninguém. Se alguém não pensa como eles, é qualificado de perverso, renegado, ignorante, etc., etc., etc. Todo o mundo quer escravizar todo o mundo; todos querem atropelar a liberdade intelectual dos outros. Ninguém quer respeitar a liberdade do pensamento alheio.

Cada qual se sente judicioso, sábio, maravilhoso, e quer, como é natural, que os demais sejam como ele, que o convertam em seu modelo, que pensem como ele. Abusou-se demais da Mente. Observem os comerciantes e sua propaganda através de jornais, rádio, televisão, etc.

A propaganda comercial é feita de forma ditatorial: “Compre tal sabonete! Tais sapatos! Tantos pesos! Tantos dólares! Compre agora mesmo! Imediatamente! Não deixe para amanhã, tem que ser imediatamente, etc.,”. Só falta que lhe digam: “Se você não obedecer, o meteremos na cadeia ou o assassinaremos”.

O pai quer impor ao filho suas ideias à força, o professor na escola repreende, castiga, dá notas baixas se o jovem ou a jovem não aceita ditatorialmente suas ideias. Metade da humanidade quer escravizar a mente da outra metade.

Essa tendência a escravizar a Mente dos outros salta à vista quando estudamos as negras páginas da negra História. Em muitos lugares existiram ou existem sangrentas ditaduras empenhadas em escravizar os povos, sangrentas ditaduras que ditam o que as pessoas devem pensar.

Pobre daquele que tente pensar livremente! Vai inevitavelmente aos campos de concentração, à Sibéria, à prisão, aos trabalhos forçados, à forca, ao fuzilamento, ao exílio, etc. Nem os professores nem os pais de família ou os livros querem ensinar como pensar.

Encanta às pessoas obrigar os outros a pensar de acordo com o que creem que deve ser, e é claro que cada uma destas pessoas é ditatorial a seu modo. Cada qual pensa que é a última palavra, crê firmemente que todos os outros devem pensar como ele, porque ele é o melhor do melhor.

Pais de família, professores, patrões, etc., etc., repreendem e tornam a repreender seus subordinados. É espantosa essa horrível tendência da humanidade a faltar com o respeito aos demais, a passar por cima da Mente alheia, a enjaular, encerrar, escravizar, acorrentar o pensamento alheio.

O marido quer meter suas ideias à força na cabeça da mulher, sua doutrina, etc., e a mulher quer fazer o mesmo. Muitas vezes o casal se divorcia por incompatibilidade de ideias. Os cônjuges não querem compreender a necessidade de respeitar a liberdade intelectual alheia. Nenhum cônjuge tem o direito de escravizar a Mente do outro. Cada qual é digno de respeito.

Cada um tem o direito de pensar como quiser, a professar sua religião, a pertencer ao partido político que queira. Obriga-se, nas escolas, as crianças a pensar em tais ou quais ideias, porém não se ensina a manejar a Mente.

A mente das crianças é tenra, elástica, maleável, e a dos velhos é dura, fixa como argila num molde, não muda, já não pode mudar. A Mente das crianças e jovens é susceptível a muitas mudanças, pode mudar. Às crianças e jovens se pode ensinar como pensar.

Aos velhos é muito difícil ensinar, porque já são como são, e assim morrem. É muito raro encontrar algum velho interessado em mudar radicalmente. A mente das pessoas é moldada desde a infância. É isso que os pais e professores preferem fazer.

Eles se deleitam em dar forma à Mente das crianças e jovens. Mente metida num molde é de fato Mente condicionada, Mente escrava. É necessário que os professores e professoras saibam dirigir a mente das crianças para a verdadeira liberdade, para que não se deixem mais escravizar.

É indispensável que ensinem aos alunos como se deve pensar. Os professores devem compreender a necessidade de ensinar aos alunos e alunas o caminho da análise, a meditação, a compreensão.

Nenhuma pessoa compreensiva deve aceitar nada de forma dogmática. É urgente primeiro investigar, compreender, inquirir, antes de aceitar. Em outras palavras, diremos que não há necessidade de aceitar, e sim de investigar, analisar, meditar e compreender.

Quando a compreensão é plena, a aceitação é desnecessária. De nada serve enchermos a cabeça de informação intelectual se, ao sair da escola, não sabemos pensar e continuamos como autômatos vivos como máquinas repetindo a mesma rotina de nossos pais, avós e tataravós, etc.

Repetir sempre a mesma coisa, viver vida de máquinas, da casa ao escritório e do escritório à casa, casar-se para converter-se em “maquininhas” de fazer crianças, isso não é viver, e se é para isso que estudamos, vamos à escola, ao colégio e à universidade durante dez ou quinze anos, melhor seria não estudar.

O Mahatma Ghandi foi um homem muito singular. Muitas vezes os pastores protestantes se sentaram em sua porta horas e horas inteiras lutando para convertê-lo ao Cristianismo Protestante. Ghandi não aceitava o ensinamento dos pastores nem o rejeitava, o compreendia e respeitava, e isso é tudo.

Muitas vezes, o Mahatma dizia: “Eu sou brâmane, judeu, cristão, muçulmano, etc., etc., etc....” O Mahatma compreendia que todas as religiões são necessárias, porque todas preservam os mesmos Valores Eternos. Isso de aceitar ou rejeitar alguma doutrina ou conceito revela falta de maturidade mental.

Quando rejeitamos ou aceitamos algo, é porque não o compreendemos. Onde há compreensão, a aceitação ou rejeição fica sobrando. A mente que crê, a Mente que não crê, a mente que duvida é Mente ignorante.

O Caminho da Sabedoria não consiste em crer ou não crer, ou em duvidar. O Caminho da Sabedoria consiste em inquirir, analisar, meditar e experimentar. A Verdade é o desconhecido de momento em momento.

A Verdade nada tem a ver com o que se crê ou se deixa de crer, nem mesmo com o ceticismo. A Verdade não é questão de aceitar algo ou rejeitá-lo, a Verdade é questão de experimentar, vivenciar, compreender.

Todo o esforço dos mestres deve, em última síntese, levar os alunos à experiência do Real, do Verdadeiro. Urge que os professores e professoras abandonem essa tendência antiquada e perniciosa dirigida sempre a modelar a Mente plástica e maleável das crianças.

É absurdo que os adultos, cheios de pré-julgamentos, paixões, preconceitos antiquados, etc., atropelem assim a Mente das crianças e jovens, tratando de modelá-la de acordo com suas ideias rançosas, lerdas, antiquadas.

É melhor respeitar a liberdade intelectual dos alunos e alunas, respeitar sua vivacidade mental, sua espontaneidade criadora. Os professores e professoras não têm o direito de enjaular a Mente dos alunos.

O fundamental não é ditar à Mente dos alunos o que deve pensar, e sim ensinar-lhes de forma completa como pensar. A mente é o instrumento do conhecimento, e é necessário que os professores e professoras ensinem seus alunos e alunas a manejar sabiamente esse instrumento.


AS REPRESENTAÇÕES DA MENTE


Convém eliminar a imaginação mecânica, que de modo algum permite o progresso esotérico. Vejam vocês a mulher que se arruma diante do espelho, que pinta suas grandes olheiras, coloca enormes cílios artificiais, lábios vermelhos, etc.; vejam-na vestida com o último modelo, como se admira ao espelho, enamorada de si mesma: está convencida de que é belíssima. Se lhe disséssemos que é espantosamente feia, se sentiria ferida em sua vaidade (e mortalmente).

Ela tem uma terrível fantasia; sua forma de fantasia a faz ver-se como não é, a faz ver-se com uma extraordinária beleza. Cada qual tem sobre si mesmo um conceito equivocado, totalmente equivocado (isso é terrível).

Alguém pode sentir-se genial, capaz de dominar o mundo com brilhante intelectualidade; está convencido disto, porém, se se visse em seu cru realismo, descobriria que o que tem em sua Personalidade não é próprio e sim alheio; que as ideias que têm não são próprias, que as leu em tal ou qual livro; que está cheio de cicatrizes morais...

Poucos são os que têm a coragem de desnudar-se diante de si mesmos, para ver-se como são. Cada qual projetou um tipo de fantasia sobre si mesmo e, como isso não é a realidade, nunca se viu a si mesmo, jamais, e isso é terrível, espantoso...

El Quinto Evangelio: “La Imaginación Como Poder, La Fantasia Como Enfermedad”.

No terreno prático da vida, uma pessoa é uma coisa, e a impressão ou representação mental que tenhamos sobre a pessoa é outra coisa. É algo similar à diferença que existe entre uma pessoa e sua fotografia.

A pessoa é a pessoa, e sua foto é sua foto (a impressão ou representação que fizemos dela). Assim, pois, para o mundo dos sentidos existem as representações ou impressões, que são todas as percepções que temos do mundo exterior através dos sentidos; mas devemos saber que existem também as “representações da mente”.

Nos mundos esotéricos, nos mundos internos, no mundo da Mente, a “Fraternidade Branca Universal” chama “efígies” a tais representações. Que diferença existe entre os agregados psíquicos e as efígies? Dissemos que todos os agregados psíquicos, em conjunto, constituem o Ego. Cada agregado psíquico é a personificação de algum defeito psicológico onde existe aprisionada certa porcentagem de Consciência Íntima.

Sem dúvida, as representações mentais, ou efígies, são algo diferente. Devemos entender que tais representações são todo um mundo de fantasia subjetiva que o “querido Ego” projeta. As representações da Mente em relação ao Eu são como um filme que aparece na tela e o indivíduo que o projeta.

Lamentavelmente, este tipo de filme que o agregado psicológico cria em nossa própria Mente conduz unicamente ao sono mais profundo de nossa pobre Consciência. Vou citar, para o bem de nossos leitores, um caso de formação de efígies ou representações. Há muito tempo, mais de 20 anos, eu ainda tinha o mau costume de ir ao cinema.

Um dia, assistia a um filme meio luxurioso. Apareceu um casal que se amava, se adorava, etc. Assisti ao filme e o esqueci, não pensei mais nele, mas no mundo da Mente a coisa mudou. Nessa região, me encontrei no corpo mental, num elegante salão.

Estava sentado junto a uma mesa e à minha frente estava uma senhora muito elegante, que era a mesma que eu havia visto no filme, suas mesmas feições, mesmo modo de caminhar, falar, etc.

Obviamente, me encontrava diante de uma representação daquela figura que havia ficado depositada em minha Mente. Eu havia criado essa representação, essa efígie. De repente, me vi obrigado a descer ao mundo Astral; me encontrei em um grande Templo, diante de um grande Mestre e um grupo de Iniciados.

Ainda me lembro de que aquele Adepto me deu um bilhete escrito com sua própria letra, que dizia: “Retire-se do Templo imediatamente, mas com INRI”, isto é, conservando o Fogo Sagrado, visto que não havia ocorrido fornicação, propriamente, nem algo desse gênero.

Com o coração compungido, compreendi meu erro; me dirigi para a porta de entrada daquele grande Templo, mas, antes de sair, resolvi ajoelhar-me num genuflexório que havia ali, perto da porta; pedi perdão.

A seguir, avançou novamente quem me havia trazido a nota, nada menos que o próprio Guardião do Templo, e me disse: “Senhor, lhe foi ordenado que se retire, obedeça”. “Bom, é que eu desejo falar com o Venerável”. “Agora não é possível, Senhor, mais tarde sim, pois neste momento ele está ocupado em examinar algumas efígies (representações)”.

Não tive remédio senão retirar-me daquele Templo, e imediatamente me vi, com o coração dolorido, em meu corpo físico. Já no corpo denso, concentrei-me no Cristo pedindo perdão, reconheci o erro de ter ido àquele lugar; compreendi que havia fabricado com a Mente uma efígie, e roguei ao Misericordioso que repetisse a prova.

Fui escutado, porque tive verdadeira compreensão, e, na noite seguinte, em corpo mental, fui levado ao mesmo lugar, à mesma mesa, com as mesmas pessoas, a mesma senhora, que era uma representação mental.

Quando ia começar a mesma agitação da noite anterior, lembrei-me do propósito de corrigir-me; saquei de uma vez minha Espada Flamígera e atravessei aquela mulher mental, e em seguida desintegrei-a, porque era só uma forma mental; a chama da espada me permitiu desintegrá-la, transformá-la rapidamente em cinzas.

Tendo concluído esse trabalho, desci novamente ao mundo Astral e penetrei num grande Templo, o mesmo da noite anterior. Então fui recebido com alegria, festa e felicitações e, posteriormente, meu Buda Interior (o Ser) me instruiu profundamente; levou-me em corpo mental às salas de cinema para mostrar-me o que são.

Descobri que todas estavam cheias de “larvas”, representações criadas pelos assistentes dos filmes, formas mentais depositadas nesses “antros de Magia Negra”. Meu Buda Interior instruiu-me sobre todos os perigos que implicam a ida ao cinema, disse-me que, ao invés de estar indo ao cinema, deveria repassar minhas vidas anteriores, e até me fez ver algumas de suas páginas.

Em seguida tomou uma espada, partiu-a e me disse: “Tu podes cair nisto: perder tua espada, se seguires indo a esses antros de Magia Negra”. Disse-lhe: “Senhor, não voltarei a esses antros”, e jamais voltei.

Compreendam que tudo o que se vê no cinema, sobretudo quando é mórbido, se reproduz na Mente das pessoas: as mesmas figuras, as mesmas formas... As pessoas que saem dali deixam multidões de larvas, que são representações, formas mentais de tudo aquilo que se viu na tela.

Assim, em nome da verdade, lhes digo que uma coisa são os agregados psicológicos e outra as representações. Os mortos comumente perdem muito tempo no “Devachan”, e não posso negar que o “Devachan” seja um lugar de felicidade e delícias, mas as figuras que tornam agradável a vida dos mortos no “Devachan” são meras representações vivas de seus familiares, parentes e amigos que deixaram na Terra; numa palavra, as formas do “Devachan” são representações ou efígies vivas.

Tais representações são fantasias da Mente, projeções ilusórias totalmente alheias à realidade; por isso é que digo que os mortos perdem muito tempo no “Devachan”, embora felizes, pois se sentem acompanhados pelos seres queridos que deixaram na Terra. Não se dão conta, nem remotamente, de que esse mundo de felicidade são meras efígies mentais; se se dessem conta disso, despertariam para a Realidade.

Vocês devem saber que na Mente de cada um de nós vivem muitas representações, algumas de tipo negativo e outras de tipo positivo. Suponhamos que temos na Mente uma representação positiva de um amigo a quem estimamos.

Alguém muito importante nos fala contra esse amigo, levanta-se todo tipo de murmúrios, calúnias, etc.; damos ouvidos a toda essa bisbilhotice e a imagem sofre em nossa Mente uma transformação, converte-se na figura que outros lhe deram, possivelmente a do bandido, a do ladrão, a do falso amigo, etc.

À noite pode acontecer de sonharmos com esse amigo; de modo algum teremos um sonho harmonioso, veremos que nos ataca, que respondemos com violência, sonhamos que empunha uma arma contra nós, etc., fica alterada a representação daquele amigo.

Pode dar-se o caso de que aqueles que falaram contra nosso amigo o tenham julgado equivocadamente, o tenham caluniado consciente ou inconscientemente, mas a representação em nossa Mente fica alterada, e isto é gravíssimo, porque a representação se converte de fato num demônio que vem a constituir um obstáculo ao nosso avanço esotérico.

Vejam o grave erro de dar ouvidos à intriga, à calúnia, aos murmúrios, aos “diz-que-disse”, etc. Obviamente, em nossa Mente existem milhares de representações que podem ser alteradas se tomarmos parte em conversas negativas, se dermos ouvidos a calúnias, etc...

Por estas e outras coisas, não é conveniente dar ouvidos a palavras negativas; isso é grave e no fundo um erro. De maneira que não somente os agregados psíquicos (viva representação de nossos defeitos psicológicos) constituem um fardo que carregamos em nosso interior.

Por dar ouvidos a conversas negativas, por estar em grupinhos onde só se escutam frases negativas, muitas vezes se pode deformar as representações mentais, e estas, no mundo da Mente, se convertem em verdadeiros demônios que formam um obstáculo intransponível para o despertar da Consciência.

Podemos citar o caso de muitas pessoas que podem ter inúmeros sonhos de tipo negativo; às vezes sonham que matam outras pessoas, por exemplo, e o grave é que não é só isso, mas que carregam esse inimigo (uma representação negativa) dentro de sua própria Mente.

Inquestionavelmente, não deveríamos ter na Mente representações de tipo negativo e nem sequer positivo. A representação positiva ou negativa que possamos ter de alguém é só isso, uma representação, uma projeção ilusória de nossa mente.

A Mente deveria criar certas atitudes serenas para predispor-se ao Ser. Para isso se necessitaria que a personalidade humana se tornasse passiva. Uma personalidade passiva é uma personalidade receptiva; recebe as mensagens que vêm das partes mais elevadas do Ser.

Inquestionavelmente, tais mensagens passam através dos centros superiores do Ser antes de entrar na Mente. Eis a vantagem de se ter uma Mente passiva. Quando esta infelizmente se encontra controlada por Eus muito pesados, a personalidade das pessoas é ativa, porque está controlada por agregados de ódio, orgulho, inveja, luxúria, etc.

Se conseguimos eliminar de nossa psique esses elementos psicológicos tão pesados, nossa personalidade humana se torna mais fácil, e a Mente se torna receptiva às mensagens que vêm das partes mais elevadas do Ser, através dos Centros Superiores de nossa psique.

Há que criar uma Mente receptiva, uma Mente que nunca projete, que sempre receba ao invés de projetar. Claro que esse tipo de mente não teria o mau hábito de aceitar representações de tipo positivo ou negativo nos diversos fundos do entendimento.

Uma Mente assim somente traria as mensagens que vêm da parte mais elevada de nossos semelhantes. Enquanto continuarmos alimentando as diversas representações do entendimento, a Mente jamais será pródiga, progressista, na realidade estará condicionada pelo tempo e pela dor.

Analisando assim, veremos que não somente devemos eliminar os agregados psíquicos indesejáveis, mas que precisamos desintegrar, também, as absurdas representações. Realmente é um problema difícil para a iluminação interior carregar, além dos agregados psíquicos inumanos, tantas representações.

Se estudarmos cuidadosamente a vida dos sonhos, acharemos neles tantas coisas vãs e incoerentes, muitos aspectos subjetivos, imprecisos, quantidades de coisas absurdas, fatos que não são reais, que devem nos convidar à reflexão.

Deve-se, como gnóstico, esclarecer e conceituar ideias lúcidas, buscar a iluminação radical, sem vacuidade, sem subjetivismo de espécie alguma. Infelizmente, as representações que carregamos em nosso interior e os diversos agregados condicionam de tal forma a Consciência que a mantêm no trilho nada agradável da subconsciência, da inconsciência e até da infra consciência.

Convido-os à reflexão, convido-os a compreender a necessidade de chegar à quietude e ao silêncio da Mente.