Quinta, 10 Dezembro 2020 08:38

Câncer: Sintomas Ocultos e a Transformação da Personalidade

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Relatos sobre pessoas com câncer que foram "inesperadamente ceifados da vida pela pérfida doença na flor da idade, no auge de suas carreiras e de suas responsabilidades" parecem contradizê-lo diametralmente.

Quando se observam as histórias de vida que estão ocultas por trás disso, tal forma de falar reflete uma assombrosa cegueira para temas sombrios. Um olhar mais atento revela que o acontecimento não se deu de forma assim tão repentina e sem prévios sinais de alarme. Justamente a falta de qualquer reação corporal e qualquer sintoma é um sinal de "normopatia". A ênfase nas grandes responsabilidades, quando examinada com precisão, revela que o afetado cumpria com o seus deveres sem se queixar.

Responsabilidade, ao contrário, significa a capacidade de dar uma resposta às necessidades da vida. Mas os pacientes potenciais de câncer não possuem essa capacidade. Como eles não podem impor limites e mal podem dizer não, eles facilmente se deixam sobrecarregar com obrigações. Por outro lado, eles as assumem de bom grado, para dar um sentido externo a suas vidas - na falta de um sentido interno. Os logros e êxitos obtidos são portanto bons disfarces - por trás dos quais pululam sentimentos de falta de sentido e depressões.

A psiquiatria conhece como depressão larval aquelas depressões por trás das quais se ocultam sintomas físicos. Por ocasião do acontecimento cancerígeno, não é raro encontrar depressões ocultas atrás do êxito externo. Aqui, a larva é tida em tão alta consideração pela sociedade que não se pode nem mesmo pensar em um sintoma. Sob muitos pontos de vista, a típica personalidade cancerígena é considerada modelar. Ela é valente e não agressiva, quieta e paciente, atua de maneira equilibrada e tão simpática porque não é egoísta, além disso é desinteressada e solicita, pontual e metódica não lhe falta praticamente nenhum dos ideais desta sociedade, e portanto não é de admirar que esteja intimamente ligada a esse sintoma.

O êxito social, apesar ou justamente devido à rigidez interna, pertence ao âmbito dos típicos ideais secundários, mas se ajusta perfeitamente à imagem ideal do homem moderno. Tampouco se pode negar que o câncer obtêm um êxito impressionante no plano superficial. Praticamente nenhuma outra doença pode subjugar um organismo e ajustá-lo a seu próprios desígnios tão rapidamente, nenhuma é tão tenaz e resistente às medidas defensivas e terapêuticas.

Não é de admirar que tenhamos tanto medo do câncer, já que nenhum outro sintoma está mais equipado para nos mostrar o espelho. O câncer personifica a transformação dos dignos ideais secundários no polo oposto, o princípio do ego total. A caricatura física desse ideal costuma ser levada a mal, como toda caricatura. Mas sempre que tal ocorre como uma caricatura desse destino, isso não acontece porque ela é falsa, ao contrário: ela se ajusta a ele e até mesmo o supera.


Livro A Doença como linguagem da alma – Capítulo 2 – Rudiger Dahlke

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  • Complexidade do Texto: Básico
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